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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pais & Filhos: Limites


 
Os conflitos entre gerações são anteriores aos mais primitivos hominídeos.
Mesmo assim, tais conflitos apresentam características únicas, próprias de cada geração, pois cada uma delas reflete, em grande medida, o seu tempo, o seu locus, a sua condição social etc.
Este artigo pretende tecer algumas considerações sobre duas gerações específicas: a Geração 1990 e a Geração 2000. Observe-se, antes de tudo, que as distinções relativas, por exemplo, a locus e a condição social tendem a homogeinizar-se com o advento da Internet e da globalização.
Geração 1990
Sob essa denominação, refiro-me às pessoas que hoje (outubro de 2011) estão com idade entre 14 a 21 anos. Tal geração será representada por dois personagens fictícios: Adler (16 anos) e Margareth (17 anos)
Geração 2000
A geração 2000 corresponde, hoje, aos pré-adolescentes. Representadas pelos personagens Gustav (11 anos) e Nise (10 anos).
A bem da didática comecemos pela Geração 2000.
Os pré-adolescentes de hoje
Gustav e Nise são, antes de tudo, consumistas. Nasceram em tempos de TV por assinatura, Internet etc. Vivem em uma redoma, "protegidos" da violência absurda das ruas. Seus pés nunca, ou muito raramente, tocaram um chão de barro. Suas rotinas são semelhantes: escola, Kumon, esporte, casa. À noite: TV e Internet. Vivem numa velocidade se quer imaginada pelas gerações passadas. Nem tiveram tempo de aprender a lidar com a frustração; nem os pais tiveram tempo de ensinar. Quem os educa? A TV, a Internet, os colegas. Os pais, ocupados em seus projetos pessoais, se penitenciam presenteando-lhes com o tênis da moda ou a bolsa da menina de Malhação. Eles são os poderosos. Não têm limites.
Todos artigos que li sobre a questão dos limites e dos conflitos de geração passam a largo de uma questão que julgo essencial: nossa sociedade fundamentada no consumo do supérfluo abomina o estabelecimento de limites. O "satisfeito" consome muito pouco; pois que se criem necessidades. Então: a abolição de limites, o enfraquecimento da hierarquia famíliar interessa às grandes empresas, à grande imprensa. E são estes que financiam o próprio Estado. São estes que geram a Cultura.
Gustav ama tênis. Tem dezenas de pares: com cheiro, com luz, com amortecedor... Ama também celulares, tablets, netbooks... Passou de ano?! então tem de ir para Disney. Por quê? Porque todo mundo vai.
Nise tem um quarto rosa. Com TV por assinatura em HD, com computador, máquina digital. Um mini apartamento completo. E já começou a preparar a sua festa de quinze anos: se não for um evento tipo Caras, será uma decepção que a marcará pelo resto da vida.
A Roda da Fortuna girando, enriquecendo ainda mais os grandes empresários e quebrando de vez os pais, além de, o que é pior, gerar parasitas, treinados para sê-los desde a mais tenra idade.
Os adolescentes de hoje
Nasci em 1963 e aprendi que a vida se desdobrava nesta ordem: criança (0 a 10), adolescente (11 a 17) e adulto (18 a 60). De sessenta por diante, seríamos idosos. Com o aumento da expectativa de vida - e por outros motivos menos nobres, a adolescência foi esticada até, ninguém sabe, quando. Atualmente, homens e mulheres de trinta anos se comportam como adolescentes: fazendo birra, esperneando e achando que os pais têm que lhes sustentar "de um tudo" - como diria Aluísio de Azevedo. Numa palavra: falta-lhes autonomia.
Cada dia que passa, os adolescentes mais se despersonalizam. Agem sob um modelo pronto, disseminado via Internet.
Margareth acorda as dez horas da manhã - para ela é chic ser uma lesma - levanta-se e vai direto ao computador. Comer? para quê? É chic ser magra. No computador: MSN, Facebook, MSN, Facebook, MSN, Facebook... Nada de exercícios... muita coca-cola. Apesar da magreza, triglicerídios: 290, colesterol: 200... O que importa é saber da vida (vida?) das celebridades. Com quem a Naninha foi vista na balada? Quantos supapos o Dado deu na Carol? Qual foi a última fotografia indiscreta tirada pelo paparazzi... A propósito, dizem que, antes de nascer, Deus pergunta à pobre alma: você quer nascer gente ou paparazzi?
Adler, por sua vez, está pirateando softwares e filmes na net. Depois, jogar um gamezinho, que ninguém é de ferro. Vive como se a adolescência fosse eterna; como se os pais mantenedores fossem eternos. Ler? É coisa de velho ultrapassado. É bastante, perguntar ao Google. 
Sobre Limites
Os teóricos da psicologia são prodigiosos em suas capacidades de discordar.
Não obstante, há uma ampla concordância entre eles de que ao nascer o bebê vive um clima afetivo de onipotência pré-pessoal. Neste ponto, concordariam Freud, Piaget, Jung, Reich, Koestler, Wilber.
E concordariam também que desenvolvimento implica a idéia de se sair de um estágio mais egocentrado para um estágio mais inclusivo e, portanto, menos egocentrado.
Um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento humano é o reconhecimento de que não somos o centro do Universo, que existe o outro. Que existe a alteridade. Que existem limites à minha pretensão.
O desenvolvimento humano se dá na interação social. O bebê - psicologicamente - não nasce humano, se faz humano no convívio social: os meninos-lobos são uma prova eloquente desta afirmação.
Quando o bebê morde o seio da mãe e a mãe reage, retirando o seio, ela está estabelecendo um limite.
Ela está, neste ato, propiciando ao bebê uma oportunidade para que ele saia de seu sono pleromático e comece sua jornada rumo ao desenvolvimento.
Estabelecer limites é uma obrigação dos pais ou responsáveis, para que o bebê, a criança e o jovem possam tornar-se pessoa.
Na Prática
1. Limites são regras ou normas de conduta que devem ser passadas para a criança desde a mais tenra idade.
2. Visam mostrar o que se pode e o que não se pode fazer. Ensinam, também, que devemos respeitar o outro, facilitando a socialização.
3. O estabelecimento de limites cabe - principalmente - aos pais, familiares e professores. É importante que a pessoa que apresenta os limites esteja bem consigo mesma - Rogers diz: que esteja em um "acordo interno" - na hora da ação educativa.
4. Se um limite estabelecido amorosa e claramente não é respeitado, é importante que exista uma punição proporcional à gravidade do ato cometido pelo educando. Exemplos de punições: não ir a um passeio que ela gosta, ficar um dia sem TV ou computador. Nada de agressão física ou moral.
5. É importante esclarecer a distinção entre o "estabelecimento de limites" e a "repressão". O primeiro se impõe através da punição; o segundo através da culpa. O primeiro age sobre os atos; o segundo sobre a pessoa. A pessoa não deve se sentir culpada pelos seus atos, mas responsável por eles. O limites são saudáveis porque estão focados nos atos e não, desvalorizando a pessoa.
6. A ausência, excesso ou rigidez de limites não ajudam. O educando precisa de parâmetros. Ser assertivo é de fundamental importância.
7. Não coloque limites conforme seus desejos pessoais.
8. Demonstre que você e os demais adultos também têm limites a respeitar.
9. Diga qual punição a ser dada para cada limite ultrapassado e não deixe de executá-la.
10. Estabeleça punições brandas para atitudes brandas e punições menos brandas para atitudes mais graves.
11. Deixe claro que a punição é pelo ato e não pela pessoa.
12. Justifique os motivos do limite. "Não faça isso porque não quero ou não gosto" não é justificativa.
13. Repita quantas vezes for necessário.
14. Use sua autoridade sem provocar submissão, mal estar ou constrangimento.
15. Use da afetividade sincera para impor limites.

Caso você tenha uma dificuldade considerável no estabelecimento de limites, pode ser hora de procurar ajuda profissional.

Historinha Zen

Quando Mulla Nasrudin se iluminou, foi à praça da aldeia falar ao povo.
- Tenho boas e más notícias.
Após um breve momento de silêncio, continuou.
- A boa, é que Deus existe!
Oh! Exclamou a multidão.
Nova pausa, e um velhinho gritou: e qual é a má?
- Nós é que não existimos! - finalizou Mulla.

sábado, 8 de outubro de 2011

Chip Chavier

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Existencialismo e morte















O tempo, a história e a civilização são filhos da morte. O Existencialismo nos alerta para isto. 
Os incautos - temerosos - pensam que os existencialistas são mórbidos masoquistas. 
E pensam que - em seus niilismos cultivados dia a dia - burlam a morte. 
Não a burlam e nem a esquecem verdadeiramente, se quer por um minuto.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Cortiço

Hoje, estou finalizando a (re)leitura de "O Cortiço" - romance Naturalista/Realista do cartunista e escritor Aluísio de Azevedo
Digo (re)leitura porque já o tinha lido na adolescência como tarefa escolar e, evidentemente, não havia gostado, entendido e nem aproveitado nada da obra.
Agora, mais maduro, pude desfrutar deste clássico, um livro fantástico, depois que você se acostuma com a sua linguagem deliciosamente esquisita para nossos padrões.
Publicado em 1890, se passa no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, em data indefinida, poucos anos antes da abolição da escravatura (1888). 
Conta a estória de João Romão, um imigrante português sem escrúpulos; Bertoleza, uma escrava trintona amante de Romão; Jerônimo, um português abrasileirado no decorrer da trama, sua esposa, Piedade, e Rita Baiana, amante de "Jeromo".
Dezenas de outros personagens (muitos, impagáveis) desfilam na obra: Miranda (representante arquetípico de uma burguesia que se constituia); Pombinha (que protagoniza a primeira cena lésbica da literatura brasileira); Botelho (o sanguessuga de Miranda); Estela (a esposa infiel de Miranda); Libório (um octagenário vítima de Romão) e tantos, tantos outros: Zulmira, Firmo, Bruxa, Machona, Alexandre...
São, pelo menos, dezenas de personagens que podem atarantar o leitor apressado...
O próprio Cortiço é tratado, às vezes, como personagem, como um ente vivo:
 
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. 
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. 
Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. 
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.


É um retrato de nossas raízes: as lavadeiras, o pagode, a cachaça, a viola, a favela...
O Cortiço é uma favela. Uma das primeiras favelas brasileiras produzidas por gente como Miranda, Romão e Botelho.
Ao fim, reconheço os vários elementos descritos no livro na minha contemporaneidade, mais do que na minha infância, adolescência ou juventude (americanizadas e censuradas, em tempos de ditadura militar).
Um Brasil autêntico e assustador.